quinta-feira, 2 de julho de 2009


As palavras desabavam dentro de mim uma a uma

cortando- me desajeitadamente que nem faíscas pontiagudas

Partida ao meio pelo vazio da linguagem,

a verdade começava a pulsar e arder sem piedade:

Não haveria mais suspiros, palavras inventadas, olhares ternos e neologismos delicados

Só me restava a realidade- dura, disforme e decidida

E as palavras opacas- para dizer do corpo em pedaços, do corpo no copo, do corpo vazio e sem borda

Sobrava também a estranheza do cotidiano

E cintilava o sinistro no frêmito de cada um- no grito mudo que cada um carregava em segredo

Não havia espanto nem encanto- havia só o mesmo e o meu assombro perplexo diante das coisas e da impermanência delas

Sem fantasia o dia caminharia- o olhar sem brilho, a pele sem viço, a sala sem poesia

Nunca mais seríamos os mesmos, nunca mais seríamos os outros,

Sem mais irresponsabilidades compartilhadas e camas sujas

Sem mais encontro e sorriso aberto

Ficou só o tédio, acenando quase de perto

Ainda de longe, brilhavam e insistiam jardins, flores, músicas, varandas e livros partilhados

Ainda mais distante, a graça, a leveza e a urgência do desejo permaneciam vivos.

Tudo morria, mas alguma coisa sobrevivia.....

FLOR DE BELA ALMA

Um comentário:

Tania Campos disse...

Olá, lindo blog! lindas tuas palavras!